sexta-feira, 8 de junho de 2007

Ran

Ran / Akira Kurosawa / Japão / 1985
Com: Tatsuya Nakadai (Lorde Hidetora Ichimonji), Akira Terao (Taro Takatora Ichimonji), Jinpachi Nezu (Jiro Masatora Ichimonji), Daisuke Ryu (Saburu Naotora Ichimonji), Mieko Harada (Lady Kaede), Yoshiko Miyazaki (Lady Sue), Takashi Nomura (Tsurumaru), Hisashi Igawa (Shuri Kurogane), Masayuki Yui (Tango Hirayama), Kazuo Kato (Kageyu Ikoma), Norio Matsui (Shumenosuke Ogura), Toshiya Ito (Mondo Naganuma), Kenji Kodama (Samon Shirane), Hitoshi Ueki (Nobuhiro Fujimaki).
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O diretor Akira Kurosawa transporta para o Japão feudal o mais contundente drama familiar da peça O Rei Lear de Shakespeare. Com uma idade já avançada, o poderoso senhor feudal Hidetora Ichimonji decide que é hora de dividir seus bens entre seus três filhos: Taro, Jiro e Saburu. Com Taro, o mais velho, Hidetora deixa a chefia do clã além das terras e da cavalaria. Para os outros dois, deixa alguns castelos e terras e a tarefa de manter o clã dos Ichimonji protegido. Ele decide então viver um pouco em cada castelo mantendo seus títulos e seus trinta homens, o que desagrada Taro e Jiro, que pretendem governar sem a interferência do pai. Saburu, percebendo a ganância dos dois irmãos não aceita a decisão e após uma discussão é expulso do feudo por Hidetora e acaba acolhido por Fujimaki, que admirado por Saburu ter enfrentado o pai, o torna seu genro. Quando Hidetora descobre a influência que Kaede, a qual ele exterminou a família, exerce sobre seu marido Taro, ele é perseguido pelos próprios filhos e tem que fugir com ajuda de um soldado e um bobo da corte. Ele então acaba enlouquecendo aos poucos. Agora o único que pode lhe ajudar é o filho que ele expulsou da suas terras.
Nunca tinha visto nenhum filme de Kurosawa, acabei achando esse empoeirado na prateleira da locadora e peguei mais para conhecer o diretor, já que tinha a intenção de fazer a resenha de “Os Sete Samurais”. O que acabou não acontecendo, primeiro por não ter encontrado esse outro filme, mas principalmente por ter ficado extasiado com a perfeição de “Ran”. Apenas com um filme visto, já virei fã desse cara. O filme já começa com uma bela tomada onde o clã dos Ichimonji realiza uma caçada com outras duas família, que querem tratar do casamento de suas filhas com o filho mais velho de Hidetora. A parte técnica, mesmo para um quase leigo no assunto como eu, é irreparável. Em várias partes do filme ele foca tudo de longe, como que estivesse contemplando as ações dos personagens interagindo com a beleza das paisagens que estão presente em todo o longa. Como acontece na cena em que seu fiel soldado Tango vai atrás de Saburu, Hidetora acaba tendo um surto de loucura e seu servo (ou bobo) corre desesperado a sua procura. Apenas contemplamos a cena do alto.
A decisão acertada de atribuir uma cor diferente pra cada um dos filhos e por conseqüência de seus clãs, deixa as batalhas além de grandiosas e realistas com um colorido que as enaltece e as torna um espetáculo a parte. O figurino, que com justiça foi o vencedor do Oscar, é impecável na caracterização da época de cada detalhe das vestimentas, muitas delas inclusive foram feitas a mão num trabalho de quase dois anos. A invasão e destruição do castelo onde Hidetora se encontrava, foi pra mim uma das melhores passagens do filme, sendo intensa tanto na ação como na dramaticidade com que o personagem sente perder tudo aquilo que construiu na vida, mas que acabou destruído pela ganância da sua própria prole.
Kurosawa explora também dois sentimentos antagônicos: a vingança e o perdão. A vingança é mais explícita na presença de Lady Sue, que arquiteta cada ato com um propósito específico e pelo qual fará de tudo para alcançar, e suas ações apesar de extremas, ganham certa justificativa por tudo que o ex-chefe do clã a fez passar. O perdão, um dos atos mais dignos e difíceis para o ser humano, é muito bem definido na luta de Saburu para que o pai seja salvo de sua própria demência frente aos atos de seus outros filhos.
As atuações com tons teatrais realçam ainda mais a intenção de Kurosawa em discutir as lutas insanas pelo poder que acabam por destruir as pessoas e qualquer estrutura familiar. Saburu, que aparentar inicialmente ser o causador das brigas, acaba se revelando o único dos filhos de Hidetora preocupado com a eminente destruição que estaria por vir. O poder e os bens são os objetivos da ganância, que acabam pela destruição moral e física de todos que de alguma forma participam dessa jornada.
No fim, Akira Kurosawa, que levou 10 anos planejando cada cena do filme, faz de “Ran” uma grande e profunda análise dos sentimentos e emoções humanas, embalando isso com mais pura e bela arte cinematográfica.
Avaliação:

Um comentário:

Dewonny disse...

Filmaço do Kurosawa, e já devo ter visto uns 4 ou 5 filmes dele, meu favorito é "Os Sete Samurais", mas esse aqui é bárbaro, gostei bastantes..nota 9.0..seu comentário está brilhante e irretocável, meus parabéns, abs!!!